Wednesday, January 12, 2005

Chamam-me "nada"

Eu já os ouvi. Por aí. dizem-me bom dia e boa-tarde e boa-noie e olá. E. Dizem mais. Que me importam. O Xavier já por várias vezes que me vem com a mesma história. Fernando, estes são... Não quero saber! Já lhe disse tantas vezes. Não quero saber. Para mim são números. É tudo números. Não foi de outra maneira que cheguei aqui. É um cargo importante. Director. Director da contabilidade desta empresa. Fernando Negrão. Director. Está lá escrito. E quero lá saber que me chamem os nomes que certamente me chamam. Sou o que for preciso para que as coisas corram bem. Chamam-me um número também. Chamam-me zero. Menos que zero. Nada. Inexistente. Pois então que saibam. O que lhes aconteceu. Vem do nada. Deste nada. À merda. Todos. Tudo gente mesquinha. Quem precisa desta gente.

Já os vi para aí a apontar. Apontam quando chego. Só porque tenho um Porsche. Eu não ando para aí a gastar dinheiro em casas nos subúrbios. Ou em creches. Ou em férias no Algarve ou no sul de Espanha. Eles que se marimbem se eu vivo com a minha mãe. Quem têm com isso. À merda. Digo-o. A todos. Quem quiser ouvir. Mas não eles. Já disse ao Teixeira que me mando aos ares quando me vem espicaçar com aquelas tretas de aproximar os trabalhadores... Às favas com os cursos na América. Tretas. Uma empresa funciona é com atitude. Maricas. Andam-se a comer uns aos outros e já não se pode fazer nada. Antigamente havia maneiras. Hoje torna-se difícil. Há quem faça de tudo para subir.

Meto a gravata com o nó apertado.
Gosto assim.
As camisas brancas.
Sou alto.
Gosto de mim.
Gosto de pentear-me assim.
De puxar e realçar a testa.
Sou egocêntrico.
Sou mesmo.
Aprendi a gostar de quem sou. Acho que não aprendi, aliás. Já sou assim. Assim. É assim mesmo. Não há cá naturezas a mudar. Cada um é como é. E as balelas de reconversões de quadro de pessoal!!... Mas alguém que andava na DRH vai-me agora fazer o quê para o Marketing. Eu não dou dinheiro a merdas dessas. Querem gastar dinheiro. Então que gastem com o que deve ser. Com profissionais como deve ser. E há por aí muito bom estudante. Saem das faculdades e sabem o que fazer. Não reclamam porque lhes pedem mais horas para fazer as coisas. Todos uma cambada de Cubistas. Passam a vida a deformar a realidade. Todos uns líricos. E aquele merdas do Teixeira... eu já o percebi há muito tempo. Sei muito bem. Ele e o outro...
Mãe.
Sabes...
Mãe...
Sim.
Podia falar com o Francisco Palmela. Ele...
Sim...
Eu sei, mãe...
Ela tem razão... Não vale a pena. Um dia destes damos um jantar cá em casa ao Castro de Melo. Ele já sabe como é. Falamos e a coisa resolve-se. Mais ano menos ano.

Escusam de me olhar.
Porque insistem em dizer-me bom-dia!?
Já sabem que não respondo!
Irritação logo de manhã.
Os genes deram-me um metro e noventa de altura mas mesmo assim esta gentinha continua a querer chegar-me às suíças. Cambada...

Luísa, passe-me o Sintra Ferreira e diga ao Vasco Preto para me trazer o relatório semestral de contas. Isso rápido. Mande entregar também uns cafés.

Todos os dias a mesma porcaria. Lá estão. Outra. E outra. Outra vez a chegar-me cartas de... Chiça! Merdas de reclamações. Já deviam saber. Ainda há gente. O que é que lhes alimenta a esperança!? Deve ser o desespero. Gente pobre. Que miséria de gente. Cambada de abutres. É o que são. A gente dá-lhes um por cento. Reclamam logo que mereciam três. E ainda se. Então não podem combinar? Receber dois? É o que eu digo. O melhor é não lhes dar. Nada. É para ver se se acalmam um bocado. Baixam a bola.

Já vim a saber. Não é casado. Isso explica tudo. Ele deve ser...
Deve ser...
Deve ser...
Deve ser...
Ele deve ser...
Põem-se para ali com conjecturas e devem seres...
Deve ser...
Sabem eles o quê?
A maior parte desta gente nem numa faculdade meteu os calcantes, quanto mais as botas sujas e de napa com que andam todos os dias!
Gentinha...

Vou propor ao Sr. Administrador que façamos um corte nas despesas de formação. Para quê? Já é o terceiro ano. Acho que esta merda é só para os directores andarem para aí. A limparem. As botas. A uns quantos! E ainda virem receber por fora. Aposto que se fizéssemos uns testes... A maior parte dos funcionários não aprendeu nada. E se aprendeu, já esqueceu. Cambada. Incompetentes. Safam-se trinta por cento. Ou menos. Ainda. Hei-de provar isto. Esta empresa e a maioria. Fazia-se com trinta por cento. As pessoas certas. Nada desta corja. Cambada de ovelhas preguiçosas...

Tenebroso. Maquiavélico.
Ele deve ser...
Eles sabem lá.
Amanhã mando-me para a Quinta das Vidigueiras.
Eles que fiquem com os subúrbios.
Só pedia que se calassem.
Até recomendava um aumento das despesas com pessoal.
Se se calassem.
Se parassem.
De uma vez por todas!
Se parassem de uma vez por todas de me dizer bom-dia.
A merda do bom-dia!
Baixem a cara. Olhem os atacadores das sapatilhas. Metam-se nas vossas vidinhas de miséria. Piquem o ponto. Trabalhem as horas a horas. Ofereçam cafezinhos. Entre vocês. Felizmente eu ainda tenho boquinha para os mandar vir.
Agora, com licença.


(escrito em 2004.10.21)

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